DIA 16

Como começar a contar uma história que você só sabe o começo?

Sinto meus olhos pesados, já vivi o dia de hoje por inteiro, sinto o corpo pedindo atenção, sinto a mente superlotada. O que realmente é meu de tudo isso?

Vejo o quão sensível eu sou, vejo que não são só meus olhos que veem as coisas que eu sinto. Posso perceber que existe toda uma orquestra por trás da minha conclusão. Sempre pude sentir através das pessoas: a intenção, o pensamento, a reação. Sempre senti as palavras que elas realmente queriam dizer. E sei também que tudo isso não é sobre mim, mas sim sobre o que a pessoa é.

Até eu entender tudo isso, acreditava que o problema estava comigo, que eu me transformava em outro alguém quando esse tipo de sensação vinha.

Hoje sei que não sou eu — mas, de vez em quando, ainda é difícil distinguir o que é meu. Digo, os pensamentos e sentimentos. Busco sempre entender os meus porquês e, quando vejo que não encontro resposta de lado algum do sentimento, sei que não é meu.

Mas é difícil também deixar ir só por saber que não é meu. De certa forma, agora é. Fez parte de quem fui e estou sendo. Agora, como eu faço isso ser meu de uma forma positiva? O que eu tiro de tudo isso? Qual é o final da história?

O final da história é não saber como isso agora vai ser.

Vejo que muita coisa se foi, e eu também já me vi ir. Diversas vezes tive de deixar quem eu era, para ser quem eu sou. E às vezes não fico contente com quem sou agora, mas, bem provavelmente, as coisas vão mudar.

Tem uma música — A Change Is Gonna Come, do Sam Cooke. Ela fala sobre a mudança vir, e como as coisas vão mudar.

As coisas vão mudar e, para isso, eu tive de ir. Tive de me deixar para crescer — e então, eu não fui a mesma. A mudança veio, eu provoquei ela, e com isso, cresci não querendo crescer. Para essa mudança acontecer, eu construí a ponte e cuidei do rio ao mesmo tempo. Durou o tempo que precisou durar para eu já não ser a mesma que fui.

Mas a conclusão é que meus olhos ainda pesam no final do dia, e penso se realmente sou capaz. Capaz de alguma coisa que eu ainda não conheço. Se sou capaz de vencer a batalha que nunca vai acontecer.

Sinto que poderia ir mais longe, me aprofundar ainda mais, mas estou lidando com a mudança sozinha. Talvez um dia eu olhe para trás e veja que ao menos eu estava aqui, não deixando o dia me vencer.

Quanto da história eu contei? Não cheguei a começar a contar ainda. Talvez eu ainda esteja no meio do caminho, encarando o papel, pensando em quem estou deixando ir nas linhas — além de quem eu já fui um dia.

It’s been too hard living

But I’m afraid to die

‘Cause I don’t know what’s up th

ere

Beyond the sky

It’s been a long

A long time coming, but I know

A change gon’ come

Oh yes, it will

— A Change Is Gonna Come – Sam Cooke